Daqui a duas horas e vinte e um minutos estará morto. Passo o tempo a dizer-lhe que um dia vai acontecer. Ele não me ouve. Já há muito que não me ouve. Quando era criança, sentado na sanita, a olhar os azulejos preto e branco sem os ver, pensou na sensação de morrer. Mergulhou tãoContinue a ler “Só saberei viver quando aprender a morrer”
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de lábios secos
Não ta acreditas! Há-des-o ver. O gajo comprou um chapéu da mema côr que a cana. Agora dia sim dia não pega num botezito e pôe-se ao largo. Desgraçado! O meu pai nunca me percebeu. Dizia que eu era o primeiro pescador da família, como se fosse uma vergonha. Eu não me importava. Eu eraContinue a ler “de lábios secos”
De Rei a Saltimbanco
Ele era o Rei. Aquela praia era o seu castelo. As centenas de pessoas que se espalhavam pelo areal eram os seus súbditos. Um aproximou-se. O seu chapéu colorido sinía com os saltos que dava. Parecia que o chão o queimava. Era o Saltimbanco. Das vestes compridas e coloridas retirou um papel e estendeu-o aoContinue a ler “De Rei a Saltimbanco”
O Marionetista
Lembro-me de o ver sentado. A parede caiada de um armazém servia-lhe de encosto. Vestia de negro. Sempre de negro. Olhava para o fim da sombra que o cobria. Naquele muro imposto à planície ele era único. Alguns cabelos rebelavam-se contra o homem e assumiam a cor da parede. Olhou-me, os músculos da cara revolveram-se,Continue a ler “O Marionetista”