Sentei-me sozinho no palco, microfone do lado esquerdo, três exemplares e uma cábula do lado direito. Estava nervoso. Senti necessidade de explicar porque é que estava sozinho. Queria ter uma conversa com quem tinha vindo, olhá-los de frente, não queria que assistissem a um diálogo. Dei as boas-vindas e apercebi-me de como ainda estávamos distantes, frios e me faltavam as palavras. Comecei por recordar os jantares em casa das irmãs na Ilha do Príncipe, há doze anos atrás, e de como o ritual de agradecer a todas as refeições me tinha marcado. E nesse momento senti-me grato pelo momento presente. O calor de ser amado pelo outro acendeu uma pequena chama no meu ser. Ao derreter a distância que sentia, desafiei o público a partirmos numa aventura. De repente, éramos um cowboy no faroeste em busca de um copo de leite fresquinho. Graças às crianças pequenas e grandes foi possível dar permissão às nossas asas e voámos para lá do desfiladeiro que nos separava. Quando a aventura terminou e o nosso herói tinha saciado a sua sede, já me sentia em casa. O público já não era um adamastor, era um cabo de boa esperança e a conversa pôde fluir.
A dada altura, depois de eu responder sobre que episódio, enquanto pai, eu alteraria se pudesse voltar atrás, perguntaram-me:
Como é que te sentes a responder a essa pergunta?
E, de repente, foi como se me recordasse que tenho um corpo que tem sensações e que estava ali comigo. Dei por mim a parar para sentir. Sabes como é? Fechar os olhos, inspirar, expirar, escutar o que vem de dentro. Sentia o peito contraído, os ombros tensos, mas também sentia que era possível respirar e partilhar. Para além do medo de que me julgassem, havia uma coragem alimentada por uma rede de pessoas que gostam de mim e a conversa continuou.
Depois de deixar claro ao público, mas especialmente aos meus filhos, que me zangaria caso um deles utilizasse o meu cartão de crédito para enviar cinco mil euros para a construção de uma escola, surgiu uma pergunta difícil.
Quais são as expectativas que tens para os teus filhos?
A desorganização interna apareceu e dei por mim a responder que esperava que fossem felizes, que de tão verdade soa a cliché. Só mais tarde, longe do palco, recolhido comigo próprio percebi o que se tinha passado. Eu não quero expressar as minhas expectativas aos meus filhos. Claro que elas existem e vão aparecendo aqui por dentro, mas elas são minha responsabilidade, eles não têm nenhum dever em relação ao que eu gostaria. E perante a possibilidade de as expressar ali em frente a eles e a tantas pessoas, família e amigos, dei por mim numa luta entre querer dar uma resposta genuína e não querer depositar neles o peso do que é meu. Felizmente, neste caso, a minha vontade de partilhar o que penso e o que sinto não ganhou e eu recordei como é importante que eu não ande a espetar tabuletas no espaço que é deles.
Seguir-se-ia uma nova pergunta difícil, como as ondas do sete e eu agarrado à prancha a tentar não vacilar.
Como é que é zangarmo-nos muito com alguém de quem gostamos muito?
E perante a minha incapacidade de responder direito, agarrado a uma explicação atabalhoada de que não sei como é que é, mas sei que é, surgiu o desafio aliviador:
Eu espero pelo próximo livro.
Depois das perguntas, depois dos autógrafos, depois de me despedir e arrumar o espaço, fui agraciado com um almoço em família organizado pelo meu pai. Ao sentar-me à mesa, deparei-me com uma citação escrita numa tabuleta na parede:
If you tell the truth, you don’t have to remember anything.
Mark Twain
E dei por mim a refletir que a sensação quente de tranquilidade comigo próprio que sentia naquele momento devia-se acima de tudo à escolha de ter feito do lançamento do livro um momento da minha verdade. Como quem diz, olha, aqui estou eu, sou este, com toda a minha luz e a minha sombra, com as minhas certezas, os meus medos e a minha incoerência. E mais uma vez percebi quão poderoso é esse caminho de nos apresentarmos ao outro desde um lugar de vulnerabilidade. Ajudou não me ter sentido rejeitado.
Obrigado a todos os que participaram nesta celebração.
Se não pudeste estar presente e quiseres adquirir o livro (dizem que é um excelente presente de Natal 🎄 😉), tens três hipóteses:
- Contactar-me diretamente
- Comprar na Amazon a versão em papel ou kindle
- Estares presente na próxima apresentação do livro em Braga, no dia 21 de dezembro, às 10:00, no Museu dos Biscainhos. Confirma no Facebook ou diretamente comigo.
Se ainda tens dúvidas e quiseres saber mais sobre o livro visita a página https://tornarmepai.pt/
Nesta resposta ao escrito agora no blogue apetece-me recomunicar o e-mail que logo de seguida te enviei, mas antes retiro de agora, “Eu não quero expressar as minhas expectativas aos meus filhos. Claro que elas existem e vão aparecendo aqui por dentro, mas elas são minha responsabilidade, eles não têm nenhum dever em relação ao que eu gostaria.”, para dizer ao Rodrigo que deve sempre dar a saber aos seus filhos o que pensa, nada de guardar. Em relação ao e-mail aqui fica. ” Meu caro Rodrigo anteontem gostei muito da sessão de lançamento do livro. Muita gente, idades diversificadas, crianças, mulheres e homens, todo o conjunto bem disposto e sessão inovadora e marcante, tudo certo até no cumprimento do horário anunciado.
O livro que já li todo tb me agradou muito pela interligação que apresenta e pela sequência. Embora tivesse conhecimento de grande parte do texto li com gosto de ponta a ponta hoje (ontem), acabei agora.. Como faço sempre sublinhei e deixei vários V (VITAL) metodologia que utilizo desde há muito em termos de U (útil) I (importante) e V (vital). Neste caso deixei V em onze páginas, ajustei para seis e escolhendo uma optei pela 107, parte de “Primeiro sê, depois faz e só então tem”.
Parabéns.
Continua:
– A trabalhar nos teus tão gostosos mundos;
– A escrever;
– E a Publicar integrando Lançamento.
Um abraço da maior consideração,
Pena.”
Agora mais um abraço da maior consideração,
Pena
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Que bonita partilha, Rodrigo!
Fico sim com vontade de ler… para breve, mas com medo de tanta leitura de trabalho que tenho para fazer 😉
E Parabéns!
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Bom dia Rodrigo,
Muito apreciei a tua capacidade de comunicador naquela manhã bonita da apresentação. Fizeste uma espécie de quadratura do círculo: um programa de entretenimento para gente dos 8 aos 80. Acho até que excedeste estes limites. E agora leio-te com o prazer de sempre: uma escrita fluida, inteligente, e amigável, como se de uma fala se tratasse.
Bem hajas por aquele abraço que me deste.
JG
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Olá Rodrigo não pude estar presente no lançamento do livro mas houve uma fada que no trouxe de presente e em breve estará nas minhas mãos.
Gosto da. forma como te despes perante todos, dá tua autenticidade, da tua fragilidade que é a tua força. Sou tua fã.
Ser pai ou mãe não é um dom, é uma aprendizagem feita de necessários erros.
Amar sem estrangular, ensinar a vencer medo quando nos temos medo são algumas das coisas de que tu falas e que a mim mãe de dois belos rapazes de 29 e 31, são coisas que me tocam muito.
Parabéns.
Dar te ei fdbk logo que tenha lido o livro
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