Sentei-me sozinho no palco, microfone do lado esquerdo, três exemplares e uma cábula do lado direito. Estava nervoso. Senti necessidade de explicar porque é que estava sozinho. Queria ter uma conversa com quem tinha vindo, olhá-los de frente, não queria que assistissem a um diálogo. Dei as boas-vindas e apercebi-me de como ainda estávamos distantes,Continue a ler “Olha, eu a lançar um livro”
Author Archives: Rodrigo
Quando dá vontade de desistir
Eu tinha nove anos quando dormi a primeira noite numa camarata partilhada com mais de oitenta miúdos que não conhecia de lado nenhum. Ao desligarem as luzes a escuridão não foi total. Algumas das lâmpadas mais fracas, aquelas a que chamavam vigias, mantiveram-se ligadas ajudando a afastar os fantasmas noturnos. À minha direita, do outroContinue a ler “Quando dá vontade de desistir”
Lançamento do livro Tornar-me pai
Devo o gosto pela escrita à minha mãe, a única não engenheira lá de casa. Ela fez o Curso Superior de Jornalismo na Faculdade de Letras, comigo ainda na barriga. Esse terá sido o meu primeiro contacto com o mundo das palavras. Imagino-me aconchegado na minha cápsula ultra-eficiente, embalado pela prosódia dos professores. Cumpria oContinue a ler “Lançamento do livro Tornar-me pai”
Sem chuva, não há arco-íris
Estou em Santa Cruz – essa praia no oeste agreste português onde o inverno passa o verão. Eu e o meu filho vamos a caminhar no meio da estrada, o que só é possível fazer nas terras onde os peões ainda são a classe dominante, quando ele afirma “Papá, eu nunca te vi chorar”. FiqueiContinue a ler “Sem chuva, não há arco-íris”
Três pérolas de sabedoria para os meus filhos
O meu filho já é um homem!, declarou o meu pai quando, durante uma discussão à mesa, eu contrapus os seus argumentos de uma forma eloquente. Eu tinha dezanove anos. Essas palavras infiltraram-se nos poros da minha pele, penetrando fundo nas camadas do meu ser e alojaram-se na minha alma. Apesar de já ter paradoContinue a ler “Três pérolas de sabedoria para os meus filhos”
O décimo aniversário
Aproxima-se o décimo aniversário da minha filha e mais uma vez vamos ter um bom grupo de raparigas e rapazes a dormir cá em casa. Dou por mim a revisitar o cansaço com que me costumo deitar no final destas festas. Depois de uma série de atividades, depois de dançarem que nem malucos e aindaContinue a ler “O décimo aniversário”
Rejeitar para não ser rejeitado
Estou sentado à mesa e sou o único que não vai comer. Estamos num daqueles restaurantes tipicamente lisboetas que se mantêm resilientes face à onda trendy/gourmet/veggie/michelin-wannabe que invadiu a cidade. São as toalhas de papel, as facas sem serrilha, os cadáveres dos peixes expostos à janela, o menu onde o bitoque é rei e osContinue a ler “Rejeitar para não ser rejeitado”
Despir o fato de super pai
Estou a lavar tranquilamente os dentes, sozinho, na casa de banho, quando ouço um grito. Não toques na minha mochila! São oito da manhã e se os vizinhos ainda não estavam acordados, agora estão. Espreito pela porta entreaberta e vejo um dos meus filhos a mexer na mochila do outro. Não toques na minha mochila!Continue a ler “Despir o fato de super pai”
És extrovertido ou introvertido?
Assim que desligo as luzes do carro alugado volto a surpreender-me com o negrume da noite. Estou há mais de quarenta e oito horas na ilha, mas ainda não consegui sossegar o coração. Está tudo bem – tento acalmar-me tal como, em tempos, tentava sossegar a minha filha perante a escuridão do seu quarto aoContinue a ler “És extrovertido ou introvertido?”
Justiça entre irmãos
Sou o irmão mais novo de três. Bem mais novo. Quando cheguei ao mundo, já a minha irmã tinha dez anos e o meu irmão tinha oito. Os meus irmãos amaram-me desde o início e em parte foi como ter mais dois pais. Tanto se preocupavam com o meu bem-estar, como me exigiam ser aContinue a ler “Justiça entre irmãos”