Em minha casa os presentes sempre se abriram na manhã de 25 de dezembro. Não me lembro do que vinha dentro dos embrulhos. Lembro-me de acordar super excitado, entrar pelos quartos adentro e arrancar os meus pais, a minha irmã e o meu irmão (dez e oito anos mais velhos) da cama. Eles vinham deContinue a ler “3 exercícios para limpares o pó ao coração neste Natal”
Author Archives: Rodrigo
Deixem-nos chorar
Dama branca para e2, cheque ao Rei (De2+). As pretas fazem roque menor (o-o). O adversário levanta o braço. Falta técnica. O Leonardo sem perceber porquê tinha acabado de perder o jogo que lhe daria acesso ao pódio do campeonato nacional de jovens de partidas semi-rápidas. Arrumou as peças no tabuleiro. Levantou-se. Todo o seuContinue a ler “Deixem-nos chorar”
O barulho do vento no trigo
Quando fiz trinta e cinco anos, a Carla ofereceu-me talvez a melhor prenda de sempre. Um boião de vidro cheio de mensagens escritas pelas pessoas que gostam de mim. O boião tem uma regra: só posso tirar um papel por dia. Este pormenor é delicioso e bastante frustrante. Por causa deste limite, as minha manhãsContinue a ler “O barulho do vento no trigo”
Pele com pele
O Leonardo não tinha pressa em nascer. Passavam-se quarenta semanas e quatro dias, quando a obstetra decidiu induzir o parto. Depois de a Carla estar deitada numa cama da maternidade e de a oxitocina correr pelas suas veias, esperámos dezassete horas para o ver surgir. Nasceu de madrugada, às duas horas e trinta, com oContinue a ler “Pele com pele”
A primeira aventura
Em janeiro de 2002, ao mesmo tempo que as primeiras moedas do euro começavam a circular, eu parti para Bolonha em Itália. Foi uma oportunidade única para explorar partes de mim, que eu não me permitia por medo de como isso poderia afetar a imagem que eu tinha construído ao longo de tanto tempo. PelaContinue a ler “A primeira aventura”
Por detrás da máscara
Num período de quatro anos estive quatro vezes em tribunal para dar o mesmo testemunho sobre o mesmo caso. A primeira vez que entrei na sala de audiência senti-me intimidado. Não fazia a mínima ideia do que ia acontecer. Ninguém me explicou o que era suposto fazer e todos os que interagiram comigo foram formaisContinue a ler “Por detrás da máscara”
O chão que me suporta
A Sofia tinha quinze meses quando pela primeira vez se levantou, deu um passo, depois outro e ainda um terceiro, sem a ajuda de ninguém. Quando voltou a cair com o rabo almofadado no chão, já o mistério estava desvendado. Voltou a levantar-se, a andar e depois a correr. Quando o irmão e os primos,Continue a ler “O chão que me suporta”
de lábios secos
Não ta acreditas! Há-des-o ver. O gajo comprou um chapéu da mema côr que a cana. Agora dia sim dia não pega num botezito e pôe-se ao largo. Desgraçado! O meu pai nunca me percebeu. Dizia que eu era o primeiro pescador da família, como se fosse uma vergonha. Eu não me importava. Eu eraContinue a ler “de lábios secos”
De Rei a Saltimbanco
Ele era o Rei. Aquela praia era o seu castelo. As centenas de pessoas que se espalhavam pelo areal eram os seus súbditos. Um aproximou-se. O seu chapéu colorido sinía com os saltos que dava. Parecia que o chão o queimava. Era o Saltimbanco. Das vestes compridas e coloridas retirou um papel e estendeu-o aoContinue a ler “De Rei a Saltimbanco”
O Marionetista
Lembro-me de o ver sentado. A parede caiada de um armazém servia-lhe de encosto. Vestia de negro. Sempre de negro. Olhava para o fim da sombra que o cobria. Naquele muro imposto à planície ele era único. Alguns cabelos rebelavam-se contra o homem e assumiam a cor da parede. Olhou-me, os músculos da cara revolveram-se,Continue a ler “O Marionetista”